25 de jan. de 2008

O Diamante Black Orlov

Foto Cartier


A história inicial desta gema negra continua um enigma. Para alguns, é parte do diamante de 195 quilates chamado "Olho de Brahma", que fazia parte de uma estátua do deus existente em um templo na região de Pondichery, Índia, e teria sido roubado por um monge, o que trouxe uma alegada maldição à gema (ao longo dos séculos, a maior parte dos seus possuidores teria tido morte por suicídio). País onde a cor negra é sinônimo de má sorte por essa razão há controvérsias quanto ao diamante ter feito parte de uma estátua representando um deus do Hinduísmo.
Outros acreditam que o nome da gema origina-se do nome de uma princesa russa chamada Nadia (Nadezhda) Viegyn-Orlov que, para outros muitos, nunca existiu. Tal princesa teria, ao fugir da Revolução Russa de 1917, vendido uma grande parte das jóias da família para custear a fuga. É interessante notar que outro diamante de grandes proporções, comprado pelo príncipe russo Orlov para ser dado como presente à Imperatriz Catarina, a Grande, também possuía a lenda de ter sido roubado de um ídolo na índia.
O que se sabe com certeza é que, comprado em meados do século passado pelo famoso joalheiro Harry Winston, o diamante (que possui agora 67,50 quilates, depois de ser dividido e relapidado, como forma de acabar com a maldição) foi mostrado como curiosidade ao mundo em exposições, antes de ser montado em um colar de platina cravejado com outros diamantes. O colar passou por vários donos e sua última venda deu-se através de um leilão da casa Sotheby’s em 1995, onde foi arrematado por um milhão e meio de dólares pelo americano J. Dennis Petimezas, que ocasionalmente o exibe. Valendo atualmente dois milhões de dólares, a última grande aparição do diamante foi na 78º premiação do Oscar, em 2006, usado pela atriz Felicity Huffman.

22 de jan. de 2008

A Tiara


Tiara "Borboletas" Jóia e Foto Julieta Pedrosa


Foram os egípcios que nos legaram os mais antigos exemplares de tiaras já encontrados. Enquanto as coroas usadas pelos faraós e sacerdotes eram ostentosas e magníficas, as tiaras usadas pelas princesas no antigo Egito eram delicadas, confeccionadas a partir de fios de ouro ou prata e a inspiração para o design vinha das formas natureza.

As tiaras, ao tempo dos antigos gregos e romanos, eram de início simples fitas de tecido atadas em volta da testa ou na cabeça e eram usadas por homens e mulheres das camadas mais nobres da sociedade. Com o tempo, as fitas de tecido passaram a ser adornadas com pérolas e gemas como rubis, diamantes e esmeraldas.

Um outro estilo de tiara também foi bastante usado pelas duas antigas culturas: tiaras feitas com folhas de louro eram dadas aos vencedores nos esportes, aos generais vencedores e aos dignitários e governantes, sendo assim um símbolo absoluto do poder da vitória. As tiaras feitas de folhas de louro foram mais tarde, substituídas por tiaras cujas folhas, imitando as do loureiro, eram feitas em ouro, prata ou em um metal mais simples, como o cobre. As noivas romanas costumavam usar uma tiara feita com flores de laranjeira, que simbolizava inocência e pureza.

Inspiradas na antiga Roma, as mulheres da corte napoleônica usaram tiaras como adornos para cabelos. Eram simples, simétricas e feitas em ouro e decoradas com imitações de folhas de louro ou da oliveira. A restauração da dinastia Bourbon, depois da queda de Napoleão Bonaparte, deu ensejo a jóias extravagantes na restaurada corte real francesa, e as tiaras passaram a ser bem mais elaboradas no design e ricamente decoradas com gemas.

No século XIX, os joalheiros ingleses se sobressaíram no design e na confecção das mais bonitas tiaras e também foi a partir desse século que a tiara passou a ser associada a casamentos, como adorno principal nos cabelos de uma noiva.

Durante a década de 1840, a rainha Vitória levou a Inglaterra a uma época de prosperidade e riqueza. Também próspera, a França viu o chamado Segundo Império começar com a coroação de Napoleão III em 1852 e o surgimento de uma nova era de glamour na alta sociedade parisiense. Em toda a Europa, a vida nas cortes floresceu e jóias magníficas se tornaram moda, e as tiaras estavam entre as jóias mais destacadas.

A aristocracia russa levou a extravagância européia a um nível mais alto nas últimas décadas do século XIX, mostrando as jóias mais luxuosas vistas nas cortes reais. Joalheiros de São Petersburgo e de Paris confeccionaram maravilhosas tiaras para a czarina, princesas e arquiduquesas.

Durante a primeira década do século XX, as tiaras se tornaram o principal adorno feminino nas altas classes da Europa. Para a coroação dos reis ingleses Eduardo II em 1902 e Jorge V em 1911, foram feitas tiaras especialmente para as ocasiões. E, na Ópera de Paris, aconteciam eventos conhecidos como “Noites da tiara”, onde as senhoras da alta-sociedade disputavam a atenção dos demais convidados com suas tiaras de designs cada vez mais elaborados.

Durante a Primeira Guerra Mundial, as tiaras voltaram a ser simples e começaram a dar lugar às aigrettes, mas mesmo com as grandes mudanças sociais e econômicas advindas com o conflito, as tiaras sobreviveram no gosto feminino. Para harmonizarem com os novos cortes de cabelo das décadas de 20 e 30 do século passado, foram criados novos designs de tiaras. Com o advento da Segunda Guerra Mundial, entretanto, o revival das tiaras teve um fim e, desde então, nunca mais adquiriu seu antigo status proeminente.

Mas as tiaras jamais saíram de moda nos casamentos. As tiaras de casamento passaram a ser desenhadas e confeccionadas de maneira a permitir que a noiva transmita um ar de realeza e encantamento na cerimônia de casamento, saindo do círculo exclusivo em que estiveram por tanto tempo e assim passando a ser acessíveis a todas as mulheres.
Confeccionadas em ouro, prata e platina, além de materiais mais simples, e nos mais variados estilos e designs, podem ser decoradas ainda com pérolas, diamantes, cristais ou outras gemas para aumentar seu brilho e glamour.
Em geral, o design das peças possui flores e/ou folhagens, tradição milenar, mas pode conter também somente elementos geométricos ou composições de linhas sinuosas ou ainda estrelas, a lua e o sol estilizados.

Para a grande maioria das mulheres modernas, a ocasião do casamento é a única oportunidade em suas vidas onde podem usar uma tiara sem medo de estarem inadequadas em termos de moda ou ocasião social. A escolha da tiara perfeita tem o objetivo principal de tornar a noiva o centro de todas as atenções e nem mesmo a mais simples das cerimônias de casamento em geral prescinde dela, pois a tiara é a principal jóia que, carregada de glamour e simbolismo, a noiva usará na sua data especial e tem sido assim desde muitos séculos.

21 de jan. de 2008

A Coroa Monomakh (Shapka Monomakha)


Foto Museu do Kremlim




De acordo com uma lenda russa, a primeira coroa usada pelos príncipes de Moscou é a chamada Coroa de Monomakh. Vladimir Monomakh, príncipe de Kiev, recebeu a coroa do imperador bizantino Constantino IX, seu avô, em meados do século XI, mas somente durante o século XVI, por causa da lenda, é que a coroa ficou conhecida pelo nome. Com design lembrando os chapéus usados pelos antigos governantes khans da Ásia Central, a coroa é formada por oito triângulos de ouro unidos em cone, decorada com pérolas, safiras, esmeraldas e rubis e tem a sua base ornamentada por pele de marta. A cruz que adorna o topo da coroa foi colocada muito depois da confecção da peça. Apesar da lenda, a maioria dos especialistas acredita que a coroa foi criada entre os séculos XIII e XIV, período a partir do qual efetivamente a coroa passou a ser usada pelos tzares russos.
A Coroa de Monomakh foi usada nas coroações dos tzares, desde Dmitry Donskoy, príncipe de Moscou no século XIV, até o tzar Pedro, o Grande, no século XVIII. Pedro, durante seu reinado, mandou confeccionar uma nova peça, a Coroa Imperial da Rússia, que passou então a ser usada pelos tzares posteriores, quando coroados.
Boris Godunov, regente da Rússia entre 1584 e 1598, e que sucedeu a Ivan, o Terrível, foi o primeiro tzar que não pertencia à dinastia Rurik a assumir o trono russo. Eleito para a posição de tzar por uma assembléia popular, em razão do herdeiro natural do trono e cunhado ser considerado mentalmente incapaz, recebeu a coroa de Monomakh porque esta não só simbolizava seu direito de reinar, mas também impunha a autoridade necessária aos que eram contra sua investidura como tzar.
Apesar da mais nova Coroa Imperial da Rússia, a Coroa de Monomakh jamais deixou de ser usada pelos tzares russos em ocasiões solenes, e o último a usá-la foi o tzar Nicolau II, assassinado, junto com mulher e filhos, pelas tropas bolcheviques de Lênin, durante a Revolução Russa de 1917.
A Coroa de Monomakh sempre foi usada como símbolo da Rússia, e pode ser vista em pinturas que retratam coroações de tzares, medalhas, símbolos heráldicos e até como fonte de inspiração para o maravilhoso candelabro de bronze e cristal do Teatro Mariinksy de São Petersburgo. Desde Pedro, o Grande, a coroa permanece guardada no Kremlin, e pode ser apreciada quando em visita ao Museu de Armaduras, situado dentro da fortaleza do Kremlin, em Moscou.

Julieta Pedrosa

Sou carioca, arquiteta formada pela UFRJ, pós-graduada em Análise de Projetos pela FGV. Com vários cursos em áreas da joalheria, sou designer de jóias e professora de História da Joalheria e de Gemologia Básica em Brasília, DF, onde moro. Minhas jóias, que privilegiam as linhas curvas, a fauna e a flora brasileiras, já foram exibidas em cidades do Brasil( Rio de Janeiro, Belo Horizonte São Paulo e Brasília), Portugal (Lisboa e Coimbra), Espanha ( Madrid), França ( Lyon), Itália (Vicenza) e China ( Hong Kong).

Publico há vários anos artigos sobre História da Joalheria no portal www.joiabr.com.br e resolvi agora disponibilizar no blog mais artigos sobre o tema, todos de minha autoria. Estou terminando de escrever um livro sobre a história das jóias e a sua opinião sobre o que escrevo é muito importante, vou gostar de ler seu comentário.