29 de abr. de 2008

O Diamante Verde de Dresden

Museu Albertinium de Dresden, Alemanha


Este diamante possui uma cor verde singular, já descrita como cor ‘verde-maçã' ou cor ‘verde-primavera’, e impressiona a todos que observam e admiram suas 58 facetas lapidadas em 29.75 × 19.88 × 10.29mm.

De origem desconhecida - alguns autores citam o Brasil e a Índia como possíveis lugares da descoberta do diamante - foi comprado de um mercador holandês em Leipzig, no ano de 1742, pelo rei da Polônia Frédéric-Auguste Saxe em pessoa, cujo pai tinha feito a cidade alemã de Dresden conhecida como uma das jóias barrocas da Europa. Montado em meio a milhares de diamantes brancos, é uma das jóias da coroa da família Saxe e uma das peças magnas do tesouro da cidade. A jóia só deixou a cidade, severamente bombardeada pelos aliados durante a II Guerra Mundial em 1945, para um “exílio forçado” em Moscou. De volta em 1958, está em exibição no museu Albertinium, imenso palácio principesco que foi totalmente reconstruído.

Em 1988 o Gemological Institute of America - GIA, examinou o diamante, atestando-lhe a extraordinária qualidade e sua pureza foi determinada como VS1, praticamente sem inclusões. Sua lapidação foi considerada pelo mesmo órgão como muito boa, fato incomum para uma gema lapidada antes de 1741.

24 de abr. de 2008

A Chegada da Corte Portuguesa e a Joalheria no Brasil

Colar e Insígnia da Torre e Espada
Palácio Nacional da Ajuda


O complexo século XIX, em termos de joalheria, iniciou-se com as grandiosas jóias criadas para a corte do Imperador Napoleão I e que serviram de padrão para toda a Europa e Américas até a Batalha de Waterloo em 1815: os conjuntos de jóias chamados parures, compostos de tiaras, brincos, gargantilhas ou colares, e braceletes fantasticamente adornados com gemas como o diamante, a esmeralda, a safira, o rubi e a pérola, cujo esplendor sobressaía mais do que o próprio design das peças.

A tentativa da França em dominar toda a Europa encontrou resistência na Inglaterra. Portugal, clamando neutralidade, continuou a honrar os acordos comerciais com a Inglaterra e, como conseqüência, França e Espanha concordaram em dividir Portugal, acordo este firmado pelo Tratado de Fontainebleau em 1807. Com a ameaça iminente da invasão de Portugal por tropas francesas, a rainha portuguesa D.Maria I e seu filho D.João, mais tarde D.João VI de Portugal,decidem assim transferir a sede da monarquia portuguesa para o Brasil, onde chegaram com toda a sua Corte e vários artistas e artífices – incluindo renomados ourives - à cidade do Rio de Janeiro, já há tempos sede da Colônia, em janeiro de 1808.

Na foto acima, podemos notar o maravilhoso trabalho realizado no Rio de Janeiro pelo ourives português António Gomes da Silva para o então príncipe João. O colar e a insígnia foram confeccionados em 1813 em ouro e prata, e decorados com diamantes, rubis, esmeraldas e esmaltes, sendo que apenas os rubis não são gemas produzidas pelo Brasil. Ao contrário das outras insígnias pertencentes à Casa Real Portuguesa, esta não prima pelo gosto na distribuição das gemas, de considerável dimensões, mas sim pela montagem exímia de grande rigor técnico.

A sede da monarquia portuguesa no Brasil durou até 1821 quando o já então rei D.João VI, forçado por pressões políticas a retornar a Portugal, deixou o príncipe D.Pedro, seu filho, como príncipe-regente. O estabelecimento de uma administração real pelo período de 14 anos mudou substancialmente a economia, através da chegada de europeus de várias nacionalidades, do fluxo de mercadorias manufaturadas estrangeiras e do começo da industrialização no Brasil, além de uma mudança significativa nos costumes das famílias brasileiras: anteriormente praticamente reclusas ao lar, as mulheres passaram a freqüentar ruas, praças e teatros. Para não fazer feio diante das damas da Corte portuguesa, as senhoras brasileiras, além de freqüentar lojas de modas e cabeleireiros, solicitavam como nunca antes os serviços dos ourives, que adaptavam o design francês que continuava em moda, ao design mais rebuscado do estilo Barroco português.

Mas o movimento pela emancipação do Brasil começou a tomar uma proporção maior depois do retorno de D. João VI a Portugal e isto também se refletiu na confecção das jóias da então Colônia, que passaram paulatinamente a adquirir características próprias: o Romantismo – com sua volta aos designs da Antiguidade e da Idade Média - em alta na Europa, influenciou intelectuais e artistas brasileiros, que se preocuparam em mostrar em suas obras e criações as características especiais – ressaltando temas como a flora, a fauna e o indígena - de uma Nação que se iniciava, distinta de todas as outras.

Jean-Baptiste Debret

9 de abr. de 2008

Selos e Sinetes

Museu Arqueológico Nacional, Atenas

Por vários milênios os selos têm sido usados para demonstrar poder, assegurar privacidade em correspondências, ratificar tratados ou garantir autenticidade a documentos. Ainda nos dias de hoje, membros da nobreza e líderes religiosos usam selos na forma de anéis e muitas outras pessoas ou companhias oferecem o seu "selo de aprovação", seja em papel, cera, verbalmente ou, com os avanços da Informática, até mesmo eletronicamente.

Os primeiros selos, possivelmente descendentes dos amuletos de identificação pessoal que a tradição remonta ao período paleolítico, são utilizados na história humana há aproximadamente 9.000 anos. Os mais antigos exemplos, datados do VII AC, foram encontrados em escavações na Síria e na Turquia. Eram feitos de cerâmica ou pedra, sendo a pedra o primeiro material utilizado para selos, apesar de que qualquer substância dura e resistente o suficiente para ser repetidamente pressionada na argila ou na cera pudesse ser utilizada. Inicialmente os selos continham gravações de linhas que se cruzavam, mas logo apareceram também motivos de figuras humanas e animais. Geralmente, eram furados para deixar passar uma fina tira de couro e, então, utilizados presos ao pescoço, para maior segurança. Mais tarde passaram a ser utilizados amarrados à cintura. Foi somente milhares de anos mais tarde que apareceram os sinetes.

Os designs dos selos sempre variaram, de acordo com a cultura, a religião ou a preferência iconográfica de uma época ou lugar, essencialmente refletindo o estilo artístico de um período histórico. Os selos da Grécia e da Roma antigas podem ser considerados uma importante manifestação da escultura clássica, por exemplo. Os primeiros selos da cultura islâmica eram decorados com figuras naturalísticas ou com estilos caligráficos. Os chineses também empregavam estes últimos como motivos para selos, aplicando-os a tecidos ou papéis.

Durante o Renascimento os selos passaram a ser mais utilizados, e não somente por pessoas que detinham poder, como os nobres e a hierarquia religiosa cristã: eram usados em transações comerciais e legais e os motivos heráldicos eram os preferidos. O século XIX foi testemunha do declínio funcional do sinete, apesar de que este manteve o seu significado decorativo e passou a ser confeccionado em alta escala, inclusive na forma de camafeus, adornando então também mãos femininas.

2 de abr. de 2008

Jiskairumoko: A Jóia Mais Antiga das Américas

Fotos Mark Aldenferfer, PNAS

Jiskairumoko é um sítio arqueológico pré-colombiano situado a 54 km a sudoeste de Puno e a 4.115 metros acima do nível do mar, nos Andes peruanos perto do lago Titicaca. Os vestígios encontrados no local indicam que a ocupação mais antiga data do Período Arcaico (8.000 - 1000 AC), que foi o segundo período de ocupação humana nas Américas.

Cientistas e arqueólogos da Universidade do Arizona, EUA, descobriram o que é, até agora, a mais antiga peça de adorno em ouro das Américas, com cerca de 4.000 anos de idade. O ouro tem sido desde milhares de séculos um símbolo de status, poder e prestígio social. O achado sugere que mesmo grupos humanos com limitados recursos reconheciam o valor do metal como símbolo de status. Os habitantes do sítio arqueológico de Jiskairumoko viveram entre 5.400 e 4.000 AC e foram caçadores em sua maioria e sua agricultura era incipiente.

O adorno em ouro, um colar feito de contas de ouro e de turquesa, foi encontrado em um túmulo que deve ter pertencido a alguém de elevada posição na comunidade. A metalurgia do ouro sempre foi associada às sociedades que tinha suas agriculturas aprimoradas e que continham uma ordem social cujo comando era baseado na hereditariedade da elite. A arte da joalheria requer tempo, capacidades técnicas e criativas e meios suficientes para a aquisição de materiais como metais nobres e gemas, sendo então um segmento fora do alcance de sociedades que viviam da subsistência. A grande surpresa em relação à Jiskairumoko é a de que todos os indícios encontrados no sítio arqueológico sugerem que os achados pertencem a uma simples vila, sem grande estratificação social.

O ourives criou o colar de contas de ouro e turquesas martelando o ouro até formar uma folha fina o suficiente para permitir a confecção de pequenas contas cilíndricas. As nove contas em ouro são intercaladas com pequenas pedras verdes e uma turquesa ao centro da peça. Tais materiais, ouro e turquesa, não são acessíveis na região do sítio arqueológico, tendo sido claro então que foi necessária uma viagem, ou uma troca comercial para a aquisição do metal e da gema, ou quem sabe do próprio colar já finalizado.

O colar achado em Jiskairumoko sustenta a hipótese de que desde muito cedo na linha do tempo, a metalurgia nos Andes já era feita com o ouro e também possibilita conjeturas sobre a maneira como as sociedades andinas mais remotas organizavam a vida cotidiana, em termos de comércio, vida social e relações de poder.