10 de set. de 2008

A Joalheria Beduína

Foto Aramco

Em Jawan, Arábia Saudita, foi descoberta em março de 1952 pelo arqueólogo F.S.Vidal uma tumba que esclareceu muito da vida dos habitantes das regiões que são banhadas pelo Golfo Pérsico. Apesar de a tumba ter sido violada e roubada, provavelmente ainda na primeira década após sua construção, aproximadamente no século I DC, foi subseqüentemente usada como um ossuário por gerações. A escavação inicial encontrou 80 esqueletos na câmara central, assim como fragmentos de vidro e cerâmica, várias contas feitas de vidro e cornalina, assim como uma pequena espátula de bronze.
Foi somente após um completo exame da tumba central que o arqueólogo e sua equipe descobriram as outras quatro tumbas, estas seladas e que proporcionaram um melhor entendimento da cultura Jawan. A mais emocionante descoberta foi o corpo de uma menina de seis anos: aparentemente morta em um ritual de sacrifício, foi enterrada com objetos do seu uso diário, incluindo jóias como um par de brincos em ouro e pérolas e um colar feito com contas em ouro, ametistas, granadas, ônix, cornalina e pérolas. O objeto mais precioso encontrado na tumba da menina foi, entretanto, uma pequena estátua de Vênus em alabastro, comum à cultura Greco - helenística.
As contas em ouro encontradas nas pontas do colar, datado do século I aproximadamente, em forma de massa (redondas e com pontas em toda a sua superfície) possuem o mesmo design que contas encontradas em colares gregos datados do IV século AC. Tais contas, identicamente reproduzidas, também aparecem na joalheria beduína em prata usada em outras regiões da Península Arábica (península desértica na região do sudoeste asiático, localizada na junção com a África e que compreende países como Bahrein, Kuwait, Oman, Qatar, Arábia Saudita, Yemen, Jordânia e Emirados árabes Unidos) provando assim as estreitas trocas comerciais existentes na Antiguidade nesta região.
Há evidências que comprovam estas trocas comerciais. Há aproximadamente 2.000 atrás, quando o sudoeste asiático era chamado pelos romanos de Arabia Felix (Arábia Feliz), as grandes riquezas que passaram pelas suas rotas comerciais indubitavelmente incluíram joalheria de outras regiões, incluindo a conta em forma de massa. Esta conta foi desenhada para ser usada nas pontas de um colar, de forma a segurar o fecho do mesmo.
Tradicionalmente, os colares beduínos contêm contas em prata e também contas multicoloridas, em ambos os casos em formas irregulares, outro eco das características das jóias antigas. O que suporta esta teoria é, naturalmente, o fato de que a Península Arábica, durante vários períodos da História, esteve relativamente isolada. Como resultado, antigos padrões de manufatura de jóias e designs têm sido repetidos, e preservados, por séculos. De certo modo, a joalheria beduína dos nossos dias é uma fascinante janela para um passado distante.
As jóias usadas pelas mulheres beduínas são sempre novas. Não existe a tradição, como no Ocidente, de herdar jóias de família, já que todas as jóias de uma mulher beduína são derretidas, após sua morte. Tendo sido dadas como dote pela sua família, é inaceitável para o costume beduíno que elas sejam ofertadas a outra mulher. Além disso, em geral as jóias estão muito usadas e às vezes, quebradas.
As jóias representam para a mulher beduína sua riqueza pessoal e, em tempos difíceis, são vendidas para serem derretidas por um ourives que confeccionará novas peças, mas sempre no mesmo estilo tradicional. Assim, existem padrões de design que continuam a ser usados e que remontam há 6.000 anos atrás.

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