24 de mar. de 2008

Os Ovos de Páscoa Fabergé


Fotos St Petersburger

A tradição do ovo de Páscoa é um atributo de um dos dias mais importantes do calendário cristão: o dia de rezar pela ressurreição de Jesus Cristo. De acordo com uma antiga tradição, o primeiro ovo de Páscoa foi dado ao imperador romano Tibério, por Maria Madalena e os apóstolos, que foram a Roma pregar o Evangelho. Na antiga Roma, era costume se levar um presente ao ser recebido em audiência pelo imperador. Os ricos levavam jóias e os pobres, o que podiam. Maria Madalena, na sua vez de se dirigir ao imperador, disse: ‘Cristo ressuscitou’, e lhe estendeu um ovo de galinha. O imperador, duvidando de suas palavras, começou a dizer que ninguém volta dos mortos e que, portanto, o que ela lhe dizia era tão impossível de acreditar quanto um ovo branco se tornar escarlate. Tibério ainda não tinha terminado a frase e o ovo mudou sua cor de branco, para escarlate. A partir de então, os cristãos passaram a se presentear com ovos coloridos, por ocasião da Páscoa.

A tradição dos ovos de Páscoa na Rússia é antiga, data do século X. De início, a Páscoa russa era celebrada com cerimônias que vinham dos tempos pagãos, adaptadas ao Cristianismo. Como a Páscoa no Ocidente coincide com a chegada da Primavera, estação que significa florescimento, renovação, ovos cozidos eram pintados em diferentes cores desde tempos imemoriais e, com o passar do tempo, surgiram os tradicionais ovos de madeira pintados, até hoje uma tradição na Páscoa russa.

O primeiro ovo de Páscoa, comissionado pelo czar Alexandre III ao joalheiro Peter Carl Fabergé, foi feito em 1885. O sucesso do presente dado à czarina Maria Feodorovna foi tão grande que por ordem do czar, o joalheiro passou a criar, todos os anos por ocasião da Páscoa, um ovo diferente, todos maravilhosamente decorados em ouro, prata, diversas gemas (rubis, diamantes, esmeraldas, safiras, ônix, jade, topázio, alexandrita), laca e esmaltes, para a czarina e também para a mãe do czar, a imperatriz viúva Alexandra Feodorovna. Ao todo, o czar Alexandre III comissionou 54 ovos a Maison Fabergé. O czar Nicolau II, tragicamente assassinado junto com sua esposa e filhos em 17 de julho de 1918 pelos russos bolcheviques, comissionou à Maison Fabergé 19 ovos.

A série dos ovos imperiais de Páscoa foi o mais ambicioso projeto comissionado à Fabergé. As condições para a confecção das jóias em forma de ovo foram a forma, a originalidade e a não repetição. A originalidade foi, em geral, inspirada em algum evento da família imperial: casamentos, nascimentos, aniversários, inaugurações. Alguns ovos possuem o monograma imperial e/ou datas, e muitos exibem fotos em esmalte de membros da família imperial. Fabergé levou extremamente a sério a comissão imperial, geralmente projetando ovos com anos de antecedência. Era sempre um segredo a aparência do próximo ovo, e sua entrega era solene, sempre causando deliciosa surpresa em quem a recebia.

Os dois primeiros ovos, cada um inspirado na galinha, foram desenhados e confeccionados sob estreita supervisão. Nos ovos dos anos seguintes, pode-se notar uma inspiração nos primeiros ovos, mas a partir da década de 90 do século XIX, o design dos ovos passou gradativamente a tornar-se cada vez mais audacioso. Os ovos “Carruagem para coroação” (1897), “Lírios do Vale” (1898), e “Palácio Gatchina” (1901), são alguns exemplos do design inovador da Maison. Apesar da audácia inovadora do design dos ovos de Páscoa, a série de ovos para a família imperial russa termina com ovos de design mais conservador, como o ovo “Ordem de São Jorge” (1915) e o ovo “Militar” (1916).

Quarenta e quatro ovos chegaram até nossos dias e cinco outros são conhecidos através de descrições e desenhos. Um dos dois semi-acabados ovos imperiais de 1917 também sobreviveu. Os ovos imperiais se espalharam pelo mundo através de vendas feitas pelos comissários soviéticos nas décadas de 20 e 30 do século passado. Dez dos ovos imperiais permanecem no Museu de Armaduras do Kremlin e onze faziam parte do acervo da Forbes, mas recentemente, no início do século atual, o bilionário russo Victor Vekselberg comprou onze ovos, cujo valor total foi de 90 milhões de dólares. A intenção é mostrá-los ao público, em museus russos. Treze ovos imperiais estão em museus norte-americanos e os dez remanescentes, em coleções particulares.

10 de mar. de 2008

O Camafeu

Foto e Jóia Julieta Pedrosa


A palavra ‘camafeu’ provavelmente origina-se do latim cammaeus, que quer dizer pedra entalhada ou esculpida. Inicialmente, a ágata foi a gema mais utilizada, além do ônix. Bem mais tarde, já a partir do século XV, passou-se a utilizar também conchas marinhas. Na confecção dos camafeus, as gemas podem ser gravadas como uma imagem negativa (intaglio) ou trabalhadas em relevo.
Os primeiros camafeus surgiram por volta do ano 300 AC, em Alexandria, Egito e eram muito utilizados em jóias e adornos para vestimentas. Também os antigos gregos e romanos apreciavam intensamente o camafeu e imagens de deuses e deusas, cenas mitológicas ou figuras femininas eram as preferidas. No período Helenístico, jovens mulheres usavam camafeus com a figura do deus Eros como um sedutor convite ao amor.
O papa renascentista Paulo II era um ávido colecionador de camafeus e de acordo com uma lenda, sua morte foi causada pelo número excessivo de jóias em camafeus que portava nos dedos, as quais teriam, devido à temperatura fria das gemas, levado-o a uma pneumonia. Lendas à parte, o camafeu era apreciado também por homens, decorando elmos, capacetes, peitorais de armaduras e punhos de espada, assim como broches e anéis. E as jóias comessi, onde ao camafeu associava-se o ouro esmaltado para formar cenas pictóricas em relevo, eram grandemente apreciadas, principalmente na corte francesa.
No século XVII era considerado refinado culturalmente um cavalheiro que colecionasse ou portasse jóias com camafeus. O imperador francês Napoleão I foi outra figura histórica apaixonada pelos camafeus, e chegou a fundar em Paris uma escola para ensinar a arte da produção de camafeus a jovens aprendizes.
Não somente jóias, mas também vasos, baixelas, taças e copos foram, ao longo dos séculos, decorados com camafeus e grandemente apreciados por nobres e pessoas abastadas, entre os séculos XV e XIX. Neste último século, com a predileção demonstrada pela rainha inglesa Vitória pelos camafeus, estes se tornaram moda entre as mulheres.
Os camafeus feitos a partir de conchas foram os responsáveis pela popularização desta arte da gravação em gemas, e a cidade italiana de Torre Del Greco, situada na Baía de Nápoles, aos pés do monte Vesúvio, tornou-se referência mundial na arte da produção de camafeus, posição que mantém até os dias de hoje. Mais de duas dezenas de diferentes tipos de conchas-do-mar são utilizadas nesta pequena cidade italiana na produção de camafeus, e também corais. A maioria das conchas se origina das ilhas de Madagascar e das Bahamas. Em Torre Del Greco, a produção de camafeus é tradicional (intaglio) e o método produtivo conta com mais de mil anos. Ferramentas de gravação feitas em aço são utilizadas manualmente pelos mestres gravadores, que selecionam as conchas a serem utilizadas, calculam o número de camafeus a serem obtidos de cada uma e supervisionam todo o processo de confecção. O resultado final é, em geral, maravilhosamente rico em intrincados detalhes.
Outro grande centro mundial da produção de camafeus fica em Idar-Oberstein, Alemanha. Mas nesta cidade alemã a produção dos camafeus se dá a partir de gemas como a ágata branca (largamente encontrada na região), a cornalina e o ônix. Ao contrário da cidade italiana, aqui as gemas são gravadas e esculpidas ultrasônicamente, com a ajuda de computadores, devido a sua dureza. As gemas são primeiramente coloridas em cores previamente escolhidas e depois gravadas e/ou entalhadas através de computadores que utilizam como padrão uma peça original feita manualmente. Depois, a cor é quimicamente retirada da superfície da gema, deixando-a na sua cor branca original.